Centenas de alunos das 44 escolas municipais da região da Maré deram, nesta quarta-feira, um abraço no Ciep Operário Vicente Mariano, onde estudava o adolescente Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, morto uma semana atrás durante uma operação da polícia na comunidade. Estudantes carregam cartazes produzidos por eles mesmos, com mensagens como "vamos fazer do luto a nossa luta", "a Maré precisa de paz" e "Marcos Vinicius presente". Durante o ato pela paz, foi feito um minuto de silêncio em homenagem ao estudante.
A mãe do menino, Bruna da Silva, também participa do protesto. E além do filho, lembrou outras crianças mortas em confrontos em comunidades do Rio:
— Tenho esperança de que algo vai mudar. A morte do meu filho não pode ter sido em vão. Vou lutar por isso. Tenho Silva no nome. E Silva é um nome de força — disse ela.
Pequena aluna de escola da Maré mostra uma pomba da paz durante a manifestação Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Segundo Fátima Barros, coordenadora da 4ª CRE (Maré), o ato reúne alunos não só da área próxima a que Marcos estudava, mas também do outro lado da Maré, dominado por uma outra facção criminosa. Uma reunião, diz ela, nem sempre possível.
Fátima lembrou que, apenas este ano, a região teve quatro dias inteiros com aulas suspensas devido à violência. Os dias mais tensos, segundo ela, são justamente os que têm operações policiais como a da quarta-feira passada.
— Em geral, nossa rotina é normal, desde que não haja incursões desorganizadas como a da semana passada. Naquele dia, não houve uma escola da região que não tivesse sido afetada. Se desde a morte da estudante Maria Eduarda existe uma instrução normativa para essas operações, por que ela ainda não foi aplicada? — questionou Fátima.
Na turma de Marcos Vinicius, pelo menos três estudantes estão tendo acompanhamento psicológico desde a morte do menino. Um deles, um colega de classe que adolescente tinha encontrado pouco antes do tiroteio.
Já uma menina de 12 anos, da mesma turma, conta que hoje é o primeiro dia que consegue vir à escola desde a morte do amigo. Ela carrega um cartaz com o desenho do uniforme da rede municipal manchado de sangue.
— Ele tinha dito que nunca ia me abandonar. Ainda não caiu a ficha que ele morreu. Não sei como vou conseguir voltar para as aulas e não encontrar meu amigo — diz a menina, que também perdeu o pai num tiroteio quando ela tinha 3 anos de idade.
O secretário municipal de Educação, Cesar Benjamim, também participa do ato, carregando uma bandeira branca.
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