Uma manifestação tomou conta da entrada da Quinta da Boa Vista, onde fica o Museu Nacional, em apoio à instituição na manhã desta segunda-feira (3). No início da tarde, uma bomba de efeito moral e spary de pimenta chegaram a ser jogados para dispersar a multidão que tentava forçar a entrada no local.
Às 13h, os portões foram abertos e os manifestantes entraram na Quinta da Boa Vista pacificamente. Eles conseguiram chegar próximo a um segundo cordão de isolamento, que fica na área interna da Quinta da Boa Vista, mas ainda distante do Museu Nacional.
Dezenas de guardas municipais estão no local bloqueando a passagem. O trânsito na região continuava lento às 13h.
Do lado de dentro, estudantes e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foram ver de perto a situação do patrimônio. Na noite anterior, o local foi destruído por um incêndio, de causas ainda não esclarecidas.
O sentimento de tristeza estava refletido nos olhos cheios de lágrimas das alunas de Geologia. Patrícia Quadros, que está fazendo doutorado na universidade, disse que esteve no local durante a noite e voltou esta manhã na expectativa de tentar resgatar mais algum material do Museu.
“É deprimente. A gente perdeu tudo. A gente perdeu o maior acervo da América Latina. A gente perdeu toda a nossa história, e a história que a gente estava construindo. Ontem a gente jogou no jardim o que deu, mas o fogo aumentou, ficou muito quente e a gente teve que sair”, lamentou a geóloga.
A estudante de graduação Gisele Rhis disse ao G1 que, recentemente, passou em um concurso para trabalhar no Museu.
“Meu trabalho de conclusão de curso estava todo aí dentro. Há três anos eu estou fazendo isso. Eu também passei no concurso pra trabalhar aqui [No Museu Nacional] e nem sei como vai ficar”, disse Gisele.
Segundo ela, a expectativa é que eles ainda consigam resgatar mais itens do acervo do Museu.
“A gente veio hoje pra ver se deixam a gente entrar pra tentar salvar algo. Tem rochas, minerais, meteorito, fóssil... algumas coisas, dependendo da temperatura, resistem”, explicou a estudante de geologia. O meteorito Bendegó resistiu às chamas.
A pedra, que pesa 5,6 toneladas, foi achada em 1784 perto de um riacho no interior da Bahia e levou quase um ano para chegar ao Rio. O meteorito foi levado para o Museu Nacional a mando do Imperador Dom Pedro II em 1888 e permaneceu no local desde então.
'Acabou tudo'
A historiadora e professora da UFRJ Regina Dantas estuda a história do palácio há mais de 30 anos, quando foi convidada a trabalhar no Museu Nacional. Inconsolável diante do prédio destruído, ela contou que sua relação com o local teve início na infância.
“Estou desde de 1994 aqui dentro todos os dias. Eu era muito nova quando comecei a ter contato com o museu. Eu fazia piquenique no gramado e queria trabalhar no museu”, contou.
Regina disse que foi até o Museu assim que soube que ele estava em chamas. “Eu pensei que fosse ajudar a retirar alguma coisa. Imaginei que fosse um fogo de pequenas proporções. Eu só escutava o chão desabando e via uma coluna de fogo’, lamentou.
A professora de dedicava a estudar a história do palácio que abrigava o museu. Ao olhar para o prédio, ela chorava. “Acabou tudo agora. Meu deus do céu, acabou tudo. E eu estudo essas coisas. Estava tudo ali no segundo andar. Acabou tudo. Tudo que eu estudei durante esses 30 anos, acabou tudo. Os documentos estavam lá no terceiro andar”, disse.
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