ELEIÇÕES 2018
Haddad relativiza papel de Lula em sua subida nas pesquisas
Candidato diz que há “uma fantasia a respeito disso”, mas reconhece que Lula é quem mais encarna projeto do PT. Ele é o 3º da série de entrevistas do Jornal da Globo.
O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, afirmou na noite desta quarta-feira (19) em entrevista ao Jornal da Globo que o seu crescimento recente nas pesquisas eleitorais não ocorreu só por causa do apoio do ex-presidente Lula. "Fosse só isso haveria transferência para todo lugar onde ele apoia – e não funciona automaticamente", afirmou o candidato, embora reconheça que "obviamente o presidente Lula é quem mais encarna esse projeto".

Haddad é o terceiro entrevistado da série que o Jornal da Globo faz nesta semana com os candidatos à Presidência mais bem colocados na última pesquisa Datafolha, divulgada na última sexta-feira (14). A apresentadora Renata Lo Prete já entrevistou Ciro Gomes (PDT) na segunda-feira (17) e Geraldo Alckmin (PSDB) na terça-feira (18) e entrevistará Marina Silva (Rede) na sexta-feira (20). O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, permanece internado se recuperando do atentado que sofreu em 6 de setembro e não será entrevistado neste momento.

Lo Prete afirmou que "ninguém, acho que nem mesmo o senhor, discorda de que a sua rápida escalada nas pesquisas de intenção de voto se deve à indicação do ex-presidente Lula" e questionou se isso não faria de Haddad, se eleito, "um presidente fraco, porque o poder, a origem do poder, é outra".

Haddad afirmou que "tem uma fantasia a respeito disso". "Se isso fosse verdade, se o Lula colocasse o dedo e tudo se resolvesse, nós estaríamos elegendo 27 governadores e 3 mil prefeitos. Não é o que acontece. Existe uma decisão que é mais complexa do que parece para chegar à conclusão de apresentar o nosso projeto".

Haddad tem 19% das intenções de votos, segundo pesquisa Ibopedivulgada na terça-feira (18), e 16%, segundo pesquisa Datafolhadivulgada nesta quinta-feira (20). Ele tinha 4% tanto na pesquisa Ibope divulgada em 20 de agosto quanto na Datafolha divulgada 2 dias depois.

Segundo Haddad, o PT tem um projeto e "obviamente o presidente Lula é quem mais encarna esse projeto, porque tem 40 anos de estrada e de confiança da população". "Lula é uma personalidade mundial. Eu tenho muito orgulho de contar com a confiança dele, mas nós temos um partido que é complexo", disse. A jornalista, então, questionou se Haddad achava que estava incorreta a avaliação de que a escalada dele nas pesquisas se devia à indicação do ex-presidente. "Eu penso que o PT tem muita força no país", disse Haddad. "O Lula encarna esse projeto como ninguém pela liderança que tem".

Lo Prete manteve o questionamento: "Não é a transferência maciça de votos, candidato, que estavam se dirigindo a ele e, a partir do momento em que ele indica o senhor, estão vindo para o senhor? Não é isso?"

"É isso também", afirmou o candidato. "Mas fosse só isso haveria transferência para todo lugar onde ele apoia – e não funciona automaticamente".

Indulto a Lula e corrupção no PT

Haddad reafirmou que não concederá indulto a Lula caso seja eleito. "Eu queria esclarecer", perguntou Lo Prete. "Nem indulto, nem graça, nem anistia. Haverá isso pro ex-presidente Lula num eventual governo seu?” O candidato respondeu: "olha, eu repito o que eu disse na CBN, de que não". A jornalista insistiu: "não haverá indulto é a sua palavra final?". "É", ele respondeu. Questionado sobre combate à corrupção, Haddad afirmou que "o presidente Lula sancionou praticamente todas as leis que são usadas pela Lava Jato" e "sempre louvou o combate à corrupção". "Depois se vê vítima, na nossa opinião e aí é unânime no PT, de uma sentença injusta" (sobre a condenação no processo sobre o triplex em Guarujá).

Lo Prete então perguntou sobre outros petistas condenados pela Justiça: "José Dirceu, Antonio Palocci, João Vaccari Neto, André Vargas. Algum desses foi condenado injustamente, candidato?". Ele afirmou não conhecer os processos, mas disse ter "a impressão que, em alguns casos, a pena é desequilibrada".

A jornalista, então, perguntou: “que casos, por exemplo?”. Haddad respondeu: "O Vaccari, o próprio Sérgio Moro disse textualmente que não há um centavo de dinheiro público utilizado pelo Vaccari ou pela família do Vaccari em nenhum aspecto", afirmou o candidato. "Quando eu vejo a PGR arquivar dezenas de processos por prescrição de caixa 2 de outros partidos - eu não estou fazendo uma acusação - eu fico me perguntando se não está havendo dois pesos e duas medidas." Lo Prete questionou se o fato de um juiz ter dito que não havia sinal de enriquecimento na família de Vaccari significa que o ex-tesoureiro do PT não fez nada errado. Haddad afirmou que "significa que pode se apurar a suspeita de caixa dois, como aconteceu com o Serra, como aconteceu com Aloysio Nunes, como aconteceu com várias personalidades que tiveram todos os seus processos arquivados" e que "parece que alguns casos o tratamento tem sido distinto".

"Foi recentemente arquivado um processo do José Serra dizendo: 'está prescrito porque é só caixa 2. Não houve nada além de caixa 2'. Nem se investigou para saber se tinha a ver com a obra da Dersa, se tinha a ver com a obra do metrô. Uma coisa é um crime eleitoral de baixa lesividade, né, do código eleitoral. A outra coisa é uma suspeita de superfaturamento de obras", afirmou Haddad.

Reforma bancária e inadimplentes

Haddad afirmou que o sistema bancário do país é "completamente anômalo", que é preciso baixar os juros "na ponta" e que, no mundo inteiro, o lucro é maior que os juros – menos no Brasil.

"A coisa mais comum no exterior é uma pessoa ir ao banco, tomar um dinheiro emprestado e abrir um negócio. Aqui você não vê isso por quê? O juro é tão alto que o lucro não cabe no juro. O lucro é menor do que o juro. Então você não vai ter geração de emprego", afirmou. "No mundo inteiro, o juro é menor que o lucro. Você paga o banqueiro e sobra um pouquinho para você, e por isso que você emprega gente. Se o juro for maior do que o lucro, você não vai ter chance, você vai quebrar."

O candidato propôs cobrar mais imposto de quem cobra juros acima da média do mercado e, por outro lado, menos de quem pratica taxas menores. "O banqueiro que é mais ganancioso vai ter que dividir a ganância dele em tributos. O banqueiro que trouxer a taxa de juro para baixo vai ter um benefício fiscal". Lo Prete questionou sobre o risco de um "efeito bumerangue", que represaria o crédito para consumidores de perfil mais complicado ou inadimplente. "Existe o risco se a gente não atuar nos depósitos compulsórios", disse Haddad. "Nós temos de atuar em várias pontas para fazer o sistema operar."

O candidato disse também que não vai usar os bancos públicos (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) para forçar a redução de juros. "Bancos públicos vão ter que se adequar também às mesmas regras. A ideia não é fazer regra para banco público diferente de banco privado."

Haddad negou que o programa "Dívida Zero", para pessoas com nome sujo, tenha surgido após o "Nome Limpo", do presidenciável Ciro Gomes (PDT). "O senhor ou a sua campanha tinham algum sinal de que o programa estava carreando ou poderia carrear voto para a candidatura do Ciro Gomes?", questionou a jornalista.

"O que é diferente na nossa proposta? O Ciro não tocou numa reforma bancária. O Ciro resolveu um problema tópico. Não vai resolver no médio e longo prazo o problema do juro alto para o Brasil. Você vai tirar pessoas do SPC, elas vão voltar depois de um ano, o problema estrutural não terá sido resolvido", afirmou. "A nossa [proposta] é muito mais abrangente."

Segurança

Haddad disse que sua proposta é criar um "sistema único de segurança pública no país", como o SUS, criar maior integração entre União, estados e municípios e federalizar crimes que envolvam organizações criminosas nacionais.

"Eu tinha uma enorme dificuldade para negociar com o governo de São Paulo uma visão de segurança territorial na capital (quando era prefeito de São Paulo). Eu era responsável pela segurança de 12 milhões de pessoas e não tinha nenhum acesso ao comando da Polícia Militar. Isso é errado. Outra coisa errada é o Presidente da República dizer: 'olha, governadores, pela Constituição a Segurança Pública é um problema de vocês, cuidem-se'. Não dá mais para isso porque o crime se nacionalizou, então nós precisamos distribuir competência. O prefeito tem que ter competência na segurança", afirmou.

O candidato diz que sua proposta é federalizar os crimes "que envolvem organizações nacionais criminosas", com o objetivo de "liberar forças locais para combater homicídio, feminicídio, estupro, roubo, que é o que aflige a população".

Lo Prete questionou o petista, então, sobre o aumento da violência nas regiões Norte e Nordeste durante os governos petistas – que Haddad atribuiu ao crescimento da renda da população, provocando a migração de facções do Sudeste em busca do mercado consumidor de armas e drogas nesses locais.

A jornalista perguntou se não seria possível que o PT, quando governou o país, tivesse feito essa análise. Ele afirmou que foi mantido o modelo da Constituição de 88 para a segurança pública. “É o capítulo menos inovador da nossa Constituição”, avaliou, dizendo em seguida que é preciso “sentar à mesa e repactuar” tendo em vista os interesses corporativos envolvidos.

20/09/2018
Fonte: G1, São Paulo
 
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