Como lidar com momentos tão difíceis como a luta contra uma doença? Para mostrar um exemplo positivo, o Bem Estar desta quarta-feira (26) resgata a história da jornalista Ana Michelle Soares, que enfrenta há sete anos um câncer de mama metastático. Apesar da adversidade, ela nunca se deixou abater. O geriatra e paliativista, André Junqueira, e a psico-oncologista e psicóloga Natália Pavani, falam como lidar em situações como essas e ter qualidade de vida através de tratamentos paliativos.
Além de não se abater com a doença, Ana Michelle ficou com a missão de cumprir a lista de desejos da amiga Renata, que também fazia tratamento para o câncer e morreu em agosto deste ano. “Acho que até foi uma generosidade dela. Então nessa minha proposta de continuá-la, eu tentei executar alguns itens da lista que tinham a ver comigo”.
Um dos itens da lista foi o encontro dela com a dupla Xitãozinho e Xororó. A Ana Michelle encontrou os cantores no programa Altas Horas. A família da amiga dela foi pro show também. “Realizar o sonho da Renata é realizar uma coisa que ela sempre gostava, sempre de alegria, e aonde a gente estava, sempre tinha alegria”, conta o viúvo da Renata, Rafael Mufalo.
A Ana Michelle também realizou um outro sonho da amiga e foi até Pedra Grande, curtir o silêncio e a natureza. Ela levou um lenço que a Renata usava. E depois, como a Renata pediu, ela foi rir disso tudo em Paris. Ela levou as amigas, que também estão passando pela mesma doença. Depois de Paris, a Ana Michelle foi realizar a lista de desejos dela: conhecer Amsterdã e Portugal.
“Se tem um jeito da gente ser eterno é vivendo nas pessoas. Então ela vive em mim e ela vive em um monte de gente”, completa Ana Michelle.
A volta da doença
Quando o câncer voltou em várias partes do corpo, a Ana Michelle precisou desacelerar. “Sei que a minha doença é assim, ela vai, ela volta, essa é a minha condição de metastática, eu faço tratamento para manter a qualidade de vida, mas eu sei que não tem esse proposito curativo, é um tratamento paliativo”.
Vivendo um dia por vez, ela comemora cada vitória. Para curtir e se cuidar, a Ana Michelle voltou para casa da mãe durante o tratamento. “Aqui eu me permito ser cuidada, eu tenho uma super mãe cuidadora, tenho um pai que é capaz de qualquer coisa pra eu ficar bem”, diz.
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Novos começos e recomeços chegaram. No último dia 14, a Ana Michelle iniciou um novo ciclo, fez 36 anos e teve festa para celebrar a data. “Estou seguindo em frente há sete anos. É óbvio que tem dias que são muito difíceis, eu faço muita medicação, e essas medicações proporcionam muitos efeitos colaterais e tem dias que são difíceis, mas eles também passam”.
Ela revela ainda os planos para 2019. “Quero continuar aqui, entendeu? Então o meu pequeno sonho é poder chegar no final de 2019 podendo falar que foi mais um ano incrível”, completa Ana Michelle.
O que é cuidado paliativo e como seguir em frente?
De acordo com a OMS, "cuidados paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais".
Especialistas dizem que a busca de um sentido é fundamental para seguir em frente após o diagnóstico de uma doença. Muitas vezes as pessoas não conseguem enxergar um sentido, e o papel dos psico-oncologistas, paliativistas e de quem está a volta dessas pessoas é ajudá-las a construir um sentido.
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Bem Estar
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A construção de um sentido e a mudança da forma de se posicionar não sofrem alteração da noite para o dia. É um processo de construção, feito passo a passo, diariamente. Existem algumas técnicas que trabalham exatamente isso, como a terapia da dignidade, que ajuda o paciente a lidar melhor com o seu processo. Baseados nisso, algumas perguntas importantes podem ajudar na reflexão:
• O que é mais importante para mim na vida?
• O que me faz sentir muito vivo?
• O que é fundamental para o meu bem-estar?
• O que me causa bem-estar?
• Quais são os papeis mais importantes que eu desempenho ou já desempenhei na vida?
• Quais são os valores mais importantes da minha vida e que precisam ser resgatados/lembrados?
• O que eu sonho para o futuro?
• O que eu tenho aprendido com a vida e como isso pode me ajudar a seguir em frente?
Amor, cuidado, acolhimento são remédios fundamentais na abordagem paliativa. O médico paliativista e geriatra André Junqueira explica que são três eixos principais:
1. Controle de sintomas (principalmente a dor);
2. Qualidade de vida (priorizar ações que podem melhorar o psicológico e emocional do paciente);
3. Medidas de conforto e dignidade (trabalhar com os valores de vida da pessoa).
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