Durante as investigações que resultaram na prisão do procurador do estado Renan Saad, a força-tarefa da Lava Jato no RJ descobriu que o traçado da Linha 4 do metrô foi alterado para deixar a obra mais cara.
Um dos aditivos incluiu uma delicada escavação por um 'tatuzão', uma máquina perfuratriz. As alterações avalizadas por Saad encareceram em mais de 11 vezes o valor da obra.
O procurador Renan Saad, preso nesta segunda-feira (1º), é suspeito de receber R$ 1,265 milhão em pagamentos da Odebrecht para mudar o traçado da expansão do metrô do Rio. Sua defesa nega "veementemente" as acusações.
O tatuzão, nome dado à tuneladora TBM (Tunnel Boring Machine), é empregado em obras sob prédios ou áreas movimentadas.
O TBM também é capaz de perfurar diferentes tipos de solo e de equilibrar a pressão sob a superfície.
Outra facilidade é a fixação de placas nas paredes recém-escavadas, à medida que o tatuzão avança.
Segundo um ex-executivo da Odebrecht, em delação premiada, Saad apresentou justificativas para alterar o traçado sem que fosse necessário fazer uma nova licitação.
Os aditivos incluíram ainda a alteração da metodologia de execução das obras civis, para que pudesse ser utilizada a tuneladora.
Escalada de preços
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), em depoimento, um ex-executivo da Odebrecht relatou que, em 1997, a licitação para a obra da nova linha do metrô dizia que o trajeto deveria ser da Estação Uruguai (na Tijuca) até a Barra da Tijuca, passando pelo Jardim Oceânico.
No ano seguinte, em 1998, a licitação apresentou um outro traçado, saindo de uma nova estação a ser escavada em Botafogo (São João) e seguindo o eixo do Humaitá e Gávea, chegando a São Conrado e Barra. Neste ponto, a expansão custaria R$ 880 milhões.
O projeto ficou 21 anos parado. Em 2009, com a retomada das obras, o orçamento ajustado ficou em cerca de R$ 3 bilhões - mas já previa o desenho atual, com um prolongamento da Linha 1.
Atualmente, o trajeto da Linha 4 sai de Ipanema, passando pelo Leblon e por São Conrado, até chegar à Barra da Tijuca. Os trabalhos terminaram em 2016, ao custo de R$ 9,6 bilhões.
A força-tarefa afirma que, somente da Odebrecht, o governo do RJ recebeu R$ 59,2 milhões em propinas relativas à expansão do metrô.
A Linha 4 do metrô liga a Zona Sul à Barra, na Zona Oeste, e foi entregue para os Jogos Olímpicos de 2016.
O que dizem os citados
O advogado Paulo Freitas Ribeiro, que defende Renan Saad, disse que o seu cliente "está muito abalado e nega com veemência os fatos". Ele vai impetrar um habeas corpus para liberar o procurador preso.
A Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) informa que já apura o caso internamente para a adoção das medidas disciplinares cabíveis e que colabora de modo pleno com as investigações.
"A PGE-RJ informa ainda que os fatos dos quais o procurador é acusado remontam ao período em que ele estava lotado como assessor jurídico chefe da Secretaria de Estado de Transportes, nomeado na gestão do ex-governador Sérgio Cabral, cargo do qual foi exonerado em junho de 2012", ressalta.
A defesa do ex-governador Sérgio Cabral afirmou que as informações prestadas sobre as mudanças no trajeto da linha quatro do metrô "foram úteis na deflagração desta operação". "Sérgio Cabral segue à disposição da Justiça, em busca de se redimir e reparar os danos causados à população”.
O G1 entrou em contato com os representantes do Consórcio Rio Barra e aguarda resposta.
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