RIO — Um documento interno da PM, produzido durante a intervenção federal na segurança do Rio, revela que parte da corporação estava preocupada com a escalada da violência no estado e o crescente aumento de policiais envolvidos em casos de balas perdidas e mortes em confrontos, os chamados autos de resistência. A recomendação era para que a tropa tivesse mais cautela em operações e enfrentamentos, para evitar que inocentes fossem atingidos por disparos.
A análise, à qual O GLOBO teve acesso, consta de um relatório da Diretoria de Logística, preparado com base em informações do tenente-coronel Leandro Augusto Rasteiro, diretor do Centro de Criminalística da PM. Na época, as mortes em operações e confrontos já cresciam.
O objetivo do documento era justificar um pedido de compra de um sistema automatizado de identificação balística. O equipamento é capaz de identificar rapidamente se o projétil que atingiu uma pessoa partiu de uma arma da corporação. Peritos o consideram fundamental para investigar eventuais excessos cometidos por policiais e apontar autores de homicídios.
A Secretaria da Polícia Militar confirmou que o pedido para a aquisição do equipamento foi feito ao general Walter Braga Netto, então interventor federal, mas um imbróglio na licitação impediu o negócio. A PM não detalhou o motivo, mas afirmou que a compra está prevista para este ano e que, no momento, a corporação faz uma pesquisa de mercado.
Segundo o relatório, protocolado em março de 2018 — quando Wilson Witzel ainda patinava nas pesquisas eleitorais ao governo do estado—, o aumento dos índices de criminalidade no país e no Rio é provocado principalmente “pelo crescimento populacional e pelo agravamento das diferenças socioeconômicas”. O texto diz ainda que “a quantidade de confrontos policiais acompanhou esses índices, aumentando, também, o número de autos de resistência seguidos de mortes”.
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