TRIÂNGULO E ALTO PARANAÍBA
'A saúde mental deve ser foco durante todo ano, não apenas em campanhas', diz psicóloga da UFTM em Uberaba
Para Luciana Maria da Silva, a prevenção e o esclarecimento devem receber atenção durante todo o ano. O G1 também conversou com um psiquiatra sobre o assunto.
"A saúde mental tem que estar no foco da atenção e não ser apenas olhada em campanhas como o Setembro Amarelo", disse ao G1 a doutora em psicóloga e professora na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em Uberaba, Luciana Maria da Silva.

O mês dedicado ao tema acabou na última segunda-feira (30), mas o G1 publica esta reportagem cerca de uma semana depois para reforçar a fala da profissional: a prevenção e o esclarecimento não devem terminar juntos com a campanha.

Nem só a depressão causa o suicídio. Outros transtornos mentais também estão entre os principais fatores de risco para a autodestruição.

Além da Luciana, a reportagem também ouviu o psiquiatra Luis Carlos Fortes Filho. Atualmente, Luiz trabalha no Hospital de Clínicas da UFTM (HC-UFTM) e atende em consultório particular na cidade.

Transtornos mentais

De fato, os tipos de sofrimento da mente são os agentes que mais ocasionam a autodestruição, segundo Luiz. Conforme define o psiquiatra, o transtorno mental é todo tipo de perturbação que causa sofrimento ou alteração das funções básicas da mente. No entanto, essa condição está longe de ser simples.

O médico vai além. “Não podemos simplificar, dizer que é apenas um processo neuroquímico cerebral. É claro que situações estressantes são acompanhadas por mudanças consideráveis, como desregulações dos tais neurotransmissores, responsáveis por fazer a gente sentir dor, prazer e alegria. No entanto, o transtorno mental é bem mais complexo. Ele é 'bio-psico-social'", complementa.

Citado o elemento biológico, o médico parte para o esclarecimento dos outros dois agentes. Para tanto, ele prefere o questionamento “como é que eu sou? Como eu costumo lidar com as dificuldades que aparece na vida? Quais as redes de apoio eu tenho na família, entre os amigos ou no trabalho? Como eu me sinto acolhido?”, indaga. O psiquiatra chancela que o maior fator de risco, realmente, é a depressão. No entanto, ele lista outros transtornos mentais como a esquizofrenia e o transtorno afetivo bipolar.

"Tem ainda o transtorno de personalidade borderline", lembra Luciana, explicando que a doença é caracterizada pela intensa instabilidade emocional.

Por de trás do sofrimento

Situação dramática de cunho social, questões ligadas a sexualidade, mudanças de região e estresse pós-traumático. Esses são alguns exemplos de situações que podem desencadear algum transtorno mental e, por conseguinte, o suicídio.

“Muitas vezes, essa pessoa não apresentava histórico de transtorno psiquiátrico. No entanto, na medida em que a situação causa um sofrimento muito grande, um desajustamento, isso se torna, de alguma forma, em transtorno mental, podendo levar ao suicídio", pondera o profissional do HC-UFTM.

Ainda nessa linha, o médico alerta que, até mesmo um desajuste econômico, deve estar no radar dos profissionais. "É a busca para se livrar de uma situação ameaçadora, como o endividamento", explica Luiz.

Mais uma vez, ele faz um correlação com a tríade "bio-psico-social". “Por exemplo, o próprio estresse intenso desregula a bioquímica. E tem a questão da genética também. Quando há, na família do paciente, um histórico de suicídio, precisamos olhar para o caso com mais cuidado ainda.”

Sequelas no corpo, abuso e abandono infantil também foram lembrados pelo médico como ações extremistas.

Religião

Menos comum na sociedade ocidental, a crença também pode ocasionar o suicídio, lembra o psiquiatra do HC-UFTM. "São suicídios por motivação religiosa, uma ideia de purificação. Um exemplo é o homem-bomba", analisa.

"Temos também os kamikazes", pontua Luciana. O nome "kamikaze" refere-se ao piloto de avião japonês carregando de explosivos na a missão que era promover ataque suicida contra navios, na Segunda Guerra Mundial.

Álcool e substância ilícita

Ao afetar a capacidade de controlar os impulsos e tirar a inibição, o uso do álcool ou da substância ilícita pode aumentar o risco do suicídio, segundo Luciana. "A droga libera um pouco nossas couraças, nossas inibições", analisa a psicóloga.

Entretanto, ela frisa que nem todo alcoolista tentará o suicídio. "O álcool potencializa o risco, mas depende da situação de vida da pessoa. Se ela tem uma pré-disposição a partir de problemas sociais por ser vítima de bullying ou de violência, o álcool poder dar coragem no cometimento do ato", reforça.

"Com muita frequência, atendemos jovens em pronto-socorro que, aparentemente, não têm outro transtorno diagnosticado que seja tão significativo, mas que, sob efeito de certa substância, pode ter uma mudança muito rápida na condição mental e se tornar muito violenta consigo mesmo", relata o Luiz Carlos.

Overdose

No caso da dose excessiva de certa substância, conhecido como overdose, o caso precisa ser avaliado para afirmar se foi autodestruição, segundo Luiz. “Às vezes, havia uma intencionalidade da morte, da desistência da vida e isso pode ser camuflado pela intoxicação.”

Para Luciana, inconscientemente, poderia até ser considerado uma forma de suicídio, mas não de forma consciente.

07/10/2019
Fonte: Carol Rodrigues, G1 Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
 
PUBLICIDADE
Jornal Regionall de Perdizes - www.jornallregionall.com.br - Todos os direitos reservados - 2017